Desafios e futuro do transporte metropolitano 30/12/2019 - 10:11

É inegável que os tempos mudam e consequentemente afetam todos os setores da vida em sociedade. Estamos na era da indústria 5.0, dos apps, startups e outros avanços tecnológicos em velocidade incontrolável. Quando trazemos esses fatores para a área da mobilidade urbana temos a direta comprovação com a existência já consolidada do transporte individual por aplicativo e mais recente dos sistemas de compartilhamento de bicicletas e patinetes. Ainda raros casos do compartilhamento de veículos elétricos. Ou seja, vivenciamos de fato inovações na forma de locomoção de um ponto para o outro. 
Por outro lado, incompreensivelmente, há demandas reprimidas que afetam diretamente milhares de famílias que até então não absorveram as boas novas desse “boom” tecnológico. O exemplo mais pratico e real é o transporte metropolitano de passageiros. Já são décadas que ônibus fazem o vai e vem de pessoas das cidades vizinhas com suas metrópoles. Seja nas mais diversas regiões do Brasil e pelo mundo a fora. Em nosso caso, a ligação das cidades metropolitanas com Curitiba. 
Embora tenham-se passado décadas dessa prestação de serviço, há um descompasso entre demandas e conquistas. E, curiosamente, um emaranhado de especificidades entre as dezenove cidades envolvidas e a relação metropolitana com a metrópole. 
O fato positivo é que mesmo diante da ausência de prioridade e investimentos (principalmente no planejamento e estrutura viária) o serviço manteve-se operante e mostrando-se cada vez mais essencial na vida dessas pessoas, especialmente daqueles que mais precisam. Justamente por ser tão indispensável é que o transporte coletivo movimenta massas e a atenção do poder público, órgãos de controle e imprensa. Se já contamos com os apps nos grandes centros, não visualizamos ainda outro modal que não o ônibus para transportar trabalhadores e outros das cidades metropolitanas que dependem dos postos de trabalho da capital e vice-versa. Para essas milhares de pessoas, que diariamente enfrentam quilômetros de estrada, as bicicletas, patinetes e o transporte individual não são a solução. 
Em 2015 uma alteração na Constituição Federal colocou o transporte coletivo como serviço de direito social ao cidadão, assim como educação, saúde, segurança e moradia. Não é para menos que anualmente os governos dedicam parte do seu orçamento para subsídio na manutenção do serviço. E, diga-se de passagem, isso não é uma prática exclusiva no Brasil. Mesmo assim, a aplicação do recurso público como apoio e subsídio tarifário é constantemente questionado. 
Para o transporte coletivo da região metropolitana de Curitiba o Governo do Estado garantiu em 2019 o total de 150 milhões de reais. É muito dinheiro. Sim! Mas permite uma tarifa social para cerca de dois milhões de pessoas, incluindo ainda as milhares de isenções. 
Como entender isso de uma forma prática? O usuário de Quitandinha vem a Curitiba pagando 6,50 reais. Ida e volta são 117 quilômetros e total de 13 reais. Se fosse utilizar o carro, teria custo médio de no mínimo 50 reais. Exemplo esse que se repete para as demais cidades, especialmente as que acessam o Sistema Integrado de Transporte - RIT chegando na capital e podendo ir às demais cidades com uma única tarifa. 
Justamente para essa população, de atuais dezenove municípios, que a Comec - Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba do Governo do Estado tem agora o desafio de pensar, organizar e regulamentar o serviço, ciente das diferentes características e necessidades, e também que mesmo com muitas cobranças e críticas, o ônibus continua sendo até então a única alternativa para esse expressivo público que precisa se deslocar com custo que não afronte demasiadamente sua renda familiar. 
Neste primeiro ano de nova gestão, a Comec promoveu medidas que considera importante neste caminho. Primeiro dando transparência no repasse de subsídio, aproximou a gestão dos governos municipais atendidos, estreitou presença junto às operadoras do serviço, reestruturou e ampliou linhas e atendimentos, lançou a tarifa diferenciada, ampliou tarifa temporal e criou um grupo de trabalho para lançar instrumento que busque, via propostas públicas, alternativas para o transporte metropolitano, incluindo os mais diversos modais. Pretende-se de forma responsável, sem parar no tempo, assegurar o serviço com regulação e eficiência. Até porque, o sustento de milhares de famílias dependem desse ir e vir. 

Gilson Santos 
Presidente da Comec